28 abril 2018

ao serviço

Tudo começou há uns dias com a notícia do JN sobre a situação das crianças internadas na ala pediátrica do HSJ, conhecida pelo nome de Joãozinho.

Desde então,  todos os dias há notícias sobre o Hospital de S. João. E o ritmo parece não abrandar.

Esta manhã, havia sarna no HSJ (cf. aqui). Previ que à tarde deveria haver mais notícias. E não me enganei. Houve (cf. aqui). Há até administradores públicos a trabalhar ao Sábado à tarde durante um fim-de-semana prolongado (cf. aqui).

É um exagero? Claro que é,  mas também uma característica  muito peculiar da cultura católica dos portugueses.

A reforma - a capacidade para, ao longo do tempo, ir ajustando as instituições à realidade que vai mudando - é uma característica das culturas protestantes. De facto, o movimento protestante original ficou conhecido para a história como  "A Reforma". Portugal, pelo contrário, alinhou no movimento oposto, "A Contra-reforma".

Reformar não é com os portugueses. Passam-se anos, décadas, às vezes séculos, e nada acontece, as instituições vão-se degradando, cada vez mais desajustadas da realidade e do mundo em que vivem, e nada muda.

Escrevem-se artigos nos jornais, protesta-se na televisão, organizam-se conferências, escrevem-se livros, a obsolescência serve continuamente de conversa ao jantar entre a família e os amigos. Mas nada acontece. Em Portugal as coisas não mudam, nem nada se reforma, por argumento intelectual.

É preciso um acontecimento. De preferência dramático, E tem de estar centrado em pessoas. É então que até as mesas se viram. E as reformas que não se fizeram ao longo de anos, décadas, às vezes séculos, fazem-se então todas de uma vez, de forma brusca e radical que até parece uma revolução.

A meio da semana, perante o ritmo das notícias sobre o HSJ, e que desde então só se intensificou, comentei para uma pessoa das minhas relações que podíamos estar a assistir ao início de uma revolução que tinha o Joãozinho como origem, uma revolução como já não havia em Portugal há precisamente 44 anos.

E que revolução era essa?

Era uma revolução sem tanques, sem espingardas, sem cravos e sem sangue. Era uma revolução pacífica.

Era a revolução democrática do Estado português, aquela que não foi feita em Abril de 1974 e que ficou por fazer desde então. É aquela revolução em que os políticos e os administradores públicos deixam de ser uma casta que manda, controla, maltrata e se aproveita dos cidadãos, para passarem a ser servidores do público ("public servants"), pessoas que estão ao serviço dos cidadãos.

O Estado democrático - aquele que está ao serviço dos cidadãos, em lugar de se servir dos cidadãos - pode finalmente estar prestes a chegar a Portugal, 44 anos depois de ter chegado a democracia.

Creio que há uma pessoa em Portugal, que tem muita argúcia política, e que já se apercebeu disso - o Presidente da República. Tanto mais que não vai ser um período fácil para ele.

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