02 novembro 2013

Seitas não têm lugar aqui

Os partidos políticos modernos são a versão (ou a evolução, para usar um termo caro ao Joaquim) laica das seitas protestantes (cf. aqui). Um partido é uma seita e uma das suas características dominantes é a exclusão. Isto é precisamente o oposto de uma das características dominantes da nossa cultura de portugueses, que é uma cultura católica, isto é, universal, uma cultura todo-inclusiva, que não exclui ninguém.

Desejo, no entanto, aqui fazer notar que o oposto de católico não é protestante. O oposto de católico é sectário. O sectarismo inclui a cultura protestante, mas não apenas ela, inclui também outras, e eu nem ouso sequer mencionar aqui pelo nome a mais antiga e a mais sectária de todas as culturas.

É neste ponto que eu gostaria de comentar dois posts recentes do Joaquim em que ele parece afirmar pela boca do autor citado, a supremacia da política nos assuntos humanos. Ao ler o primeiro post, eu pensei: "Se ele tivesse substituído a palavra política por religião (ou por Deus) seria tudo verdadeiro. Assim é tudo falso". Ao segundo, já nem liguei ("conversa de chacha", pensei eu).

O Joaquim conhece o meu princípio  (da "dupla precaução") acerca da cultura donde vem o autor. De que política estará ele a falar, da política no sentido do Aristóteles e do catolicismo que entende a política num sentido comunitário e de serviço à comunidade e, portanto do sentido construtivo da política? Não, não está, está a falar de política partidária, da política sectária, está a falar do sentido destrutivo da política.

Ora, os portugueses nunca gostaram deste sentido sectário da política, porque é um sentido destrutivo e portanto falso.  A nossa tradição é a de um sentido comunitários da política, um sentido construtivo e verdadeiro. Foram inúmeros os sinais que os portugueses, ao longo da sua história, deram acerca disto.

Um, talvez o mais conhecido, foi a Inquisição. Outro foi o Index dos Livros Proibidos. Outro ainda, se calhar o mais famoso, foi a expulsão dos judeus. A mensagem, em todos os casos, era clara: "Seitas não têm lugar aqui". A vitória dos absolutistas sobre os liberais na guerra civil foi mais um sinal da mesma mensagem. E Salazar foi ainda outro.

7 comentários:

Vivendi disse...

Excelente.

Esta é a reconstrução da história.

Ricciardi disse...

Concordo em boa parte.
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No entanto, nao me parece que os partidos partam. Na verdade, a ideia é eles representarem o que está eventualmente separado. Dar-lhes um eco. Uma voz.
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O problema nao devém da existencia de partidos, já q as opiniões tem de ser agrupadas em instituicoes, de partidos, de clubes, de religioes, de associacoes etc.
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O problema é os partidos nao estarem a servir para representar os interesses das partes, mas antes servirem-se a si mesmos como fim ultimo. Eles servem-se dos votos nao para poder representar as pessoas, mas sim para exercer proveitos particulares.
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O nosso ministro da economia, pires de lima, disse na semana passada mais ou menos assim, eu estou contra esta medida mas sou um bom soldado. O deputado do cds que votou contra o OE vai ser expulso ou nao reconduzido.
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A ditadura nao funciona nos dias q correm. A imposicao de governo pela via militar nao me parece útil nem proveitosa. Além disso nunca sabemos quem é que os militares lá metem. Podemos ter a sorte de colocarem um ditador do genero de salazar que, apesar dos muitwos defeitos, era uma pessoa íntegra e competenete, mas pode acontecr o contrario. Um sanguinario insolente pestilento e incompetenete.
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O melhor sistema é aquele cujo poder devém naturalmente. Aquele poder q as pessoas antecipam naturalmente. A monarquia. Pese embora tenha defeitos, insanaveis, dada a sucessao ser hereditaria. No entanto, essa desvantagem tambem é uma enorme vantagem. O principe será necessariamente alguem excelente,ente preparado desde a sua meninice para a governacao.
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As actuais monarquias nao servem. Servem para vender revistas cor de rosa.
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Rb

Anónimo disse...

"No entanto, nao me parece que os partidos partam. Na verdade, a ideia é eles representarem o que está eventualmente separado. Dar-lhes um eco. Uma voz."

Vamos supor que essa separação não existe na sociedade ? O que é que acontece ? O que diria que é também uma pergunta que o PA fez no início da sua busca.

Os partidos são muito bons numa sociedade já de si dividida. Ou seja, tornam-se apenas um espelho do que a sociedade já o é, uma construção adaptada à realidade. É o nosso caso ?

Francisco disse...

"O principe será necessariamente alguem excelente,ente preparado desde a sua meninice para a governacao."

Embora isto também possa ser distorcido. Actualmente cada vez mais os nossos governantes são antigos "príncipes" das jotas. Preparados desde a juventude para serem governantes, só que a preparação não me parece que seja para governar o país. Será que a formação do príncipe, no ambiente actual, não poderia sucumbir à mesma distorção?

zézinho disse...

O insubstituível Salazar. Faltava o adjectivo.

BLUESMILE disse...

A defenestração do Vasconcelos, isso sim, é que foi um grande sinal. E o 25 de Abril outro.

Anónimo disse...

" a vitória dos absolutistas sobre os liberais na guerra civil...".

Esta não percebi. Pode descodificar?