11 novembro 2012

uma vez mais, é o «tira estado, mete estado»

O Pedro tem vindo, nos últimos dias, a comentar e a criticar o sistema português de justiça, que ele considera estrangeirado e influenciado (e desvirtuado) por princípios distantes da nossa tradição. Nessa perspectiva, ele condena - e bem - o facilitismo criminal que se instalou no processo criminal português, onde uma simples denúncia anónima pode dar origem a um processo kafkiano, a natureza do Ministério Público, onde, na verdade, ultimamente se instalou a mentalidade do in dubio contra o réu, e elogia a Polícia Judiciária, na qual ele julga encontrar as virtudes da nossa cultura jurídico-criminal.
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Não estando inteiramente seguro sobre as virtudes históricas da nossa PJ, não obstante a velha fama de ser uma das melhores polícias de investigação criminal do mundo (tal como a TAP é a melhor companhia aérea do mundo...), julgo que há um aspecto essencial neste tema que lhe escapou: a utilização do direito criminal e da estrutura judiciária que o sustenta pelo estado e pelos interesses do estado, sobretudo os seus interesses económicos. é  aqui que, a meu ver, mais se tem desvirtuado a natureza desse essencialíssimo ramo do direito e das suas instituições (magistraturas ordinária e do Ministério Público, Polícias, etc.).
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Na verdade, o crescimento do estado ocorrido nas últimas décadas, por um lado, e as suas crescentes necessidades financeiras, por outro, transformaram um ramo de direito que era, essencialmente, a positivação de direitos fundamentais dos individuos resultantes do direito natural («não matarás», que decorre do direito à vida, «não roubarás», que resulta do direito de propriedade e do direito à segurança das pessoas e dos seus bens, «não caluniarás», consequência do direito ao bom nome e à personalidade individual, «não perturbarás a ordem pública», que é condição essencial para a vida em sociedade e para a materialização da cooperação social, etc.), num ramo de direito ao serviço do estado e dos pequenos interesses da sua tesouraria. Em razão disso, desenvolveu-se, nos últimos anos, um subsistema de direito criminal que é o direito penal económico, onde verdadeiramente não se encontram quaisquer normas que protejam interesses e direitos fundamentais dos indivíduos ou mesmo da sociedade, admitindo-se a existência desta como objecto de direitos. Nesse seguimento, o estado tem vindo a dotar o seu aparelho repressivo - polícias, tribunais e magistraturas - de poderes que apenas se fundamentam pela eficácia de resultados e não pelos direitos que deviam proteger, assim como tem valorizado desmesuradamente a suposta «criminalidade» económica (principalmente, note-se, os crimes económicos contra o estado), em detrimento do que deveria ser uma política criminal de defesa dos direitos individuais e da vida em sociedade. As consequências estão à vista de todos: Portugal é cada vez mais um país mais inseguro, os índices de criminalidade contra o cidadão não param de aumentar e as polícias, o Ministério Público e os tribunais não fazem outra coisa que não seja perseguir os «crimes» económicos, isto é, as pessoas e as empresas que, por qualquer razão, lhes ficam a dever dinheiro.
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O problema da justiça portuguesa, caro Pedro, é, assim, um problema de «tira estado, mete estado», e nada mais.

26 comentários:

zazie disse...

ehehe

É um brincalhão, o Paulo Mendo.

Deve ser à conta de tanta perseguição desnecessária a crimes de colarinho branco que agora quem tem de pagar são os sem camisa.

rui a. disse...

Nao e o PM, Zazie, sou eu, o Rui. E, spbre o tema,deixe la esse choradinho de que estamos a pagar o que os outros nao pagaram. Essa e so uma falacia para nos obrigar,a todos, a pagar mais. O que estamos a pagar e o que nos gastaram,porque lhes pagamos.

rui a. disse...

Nao e o PM, Zazie, sou eu, o Rui. E, spbre o tema,deixe la esse choradinho de que estamos a pagar o que os outros nao pagaram. Essa e so uma falacia para nos obrigar,a todos, a pagar mais. O que estamos a pagar e o que nos gastaram,porque lhes pagamos.

zazie disse...

Ah, ok,

Então é v. o ingénuo, homem de Deus

Está bem: eu não fiz choradinho. Nem tenho costela marrana para isso. Nunca me queixei de andar a ser perseguida por cabalas.

E não falei no plural; imagino que o Rui a. (no caso era o PM, tanto faz) usem camisa com colarinho e gravata.

zazie disse...

Finalmente pude chamar-lhe "homem de Deus".

Estava a ver que nunca mais me dava a oportunidade de citar essa sua expressão tão engraçada e com boa aplicação.

zazie disse...

Já agora, pensava que o que os outros gastaram também tinham sido gigantescos buracos de lesa-estado.

Afinal, até as PPPs e coisas idênticas, foram cabalas e o dinheiro gasto era para caridade do Estado Social.

zazie disse...

Há-de ser por isso que nem pobres temos- ficou tudo mega-rico de tanto gasto de impostos tão magnânimo e honestamente usado.

Nesse caso, Rui a. Não se preocupe- como diz o outro "não há crise"; só hão-de faltar sobras; pentelhices para enganar estrangeiro e receber mais uns cobres.

rui a. disse...

Sou nada, Zazie. Vc. e que parece acreditar nessa historia da carochinha da criminalidade economica que destroi a nossa economia. Isso e apenas um alibi para nos continuarem a ir aos bolsos a bruta e para justificarem a miseria em que nos deixaram. Nao seja crente, Santa do Snhor!

zazie disse...

Não é nada? não me diga uma coisa dessas. Eu acho que é um senhor de camisa e um bom homem de Deus.

Mas, se não há crimes económicos, os outros nem roubaram nada, somos todos impolutos, então para que raio quer o Estado roubar mais impostos?

Por vício? andam na droga?

zazie disse...

ahahahah

Santa do senhor ainda é mais giro; homem de Deus!

":O))))))

zazie disse...

Razão tem o Dragão- e um caso heidegeriano um problema do Todo que é Nada.

zazie disse...

«Concomitantemente, dada a ausência mais completa de ilícito entre nós, tanto quanto o enriqueccimento, também o empobrecimento ilícito se torna impossível.»

rui a. disse...

Zazie, as ppps e coisas do genero, sap roubalheiras puras e simples,mais do que previstas em qualquer Codigo Penal. Sao crimes contra os bolsos dos cidadaos, o seu e o meu. Os ditos ceimes economicocos nao sao isso, mas os supostos crimes contra os bolsos do eatado, a pala dos do contribuinte. Apenas um alibi para nps estuprarem ainda mais os bolsos e fazerem-no passando por cima dos direitos fundamentais mais do que elementarea.

zazie disse...

O Rui a, até pela escrita se nota que anda a apanhar muito sol na moleirinha.

Quando essas coisas previstas são acompanhadas de saque e favores, costumam ter o nome de corrupção. O mesmo se aplica ao saque (legal e previsto) das firmas de advogados. Nuns casos é legal, noutros tem mesmo roubo e favorecimento que depois permite as belas castas que temos.

Não são porcos capitalistas- são gente em estado de graça e perseguidos por nada, por esse MP que deu em imitar o estrangeiro.

Mas, como tudo isto, com perseguição ou sem ela sempre deu em águas de bacalhau, também não percebo para quê tanto choradinho por quem nem se queixe a continua a mamar.

O problema parece-me, mais uma vez, ser com o conceito- foram-lhe ao conceito- homem de Deus- à liberdade.

I'm defending her honor, which is more than she ever did.- como diria o Groucho.

Vivendi disse...

O mais engraçado na maioria das pessoas é que julgam que as coisas acontecem por acaso. Que é tudo malta porreira e é tudo uma questão de mais estado ou menos estado e a coisa resolve-se.

O Sócrates em conversa telefónica com o Vara até falava de quanto tempo ainda tinha disponível para aguentar a cabala.

Só dá gente é alienada. E acreditam no que não devem.

Tudo porreiro pá.

Vivendi disse...

Na teoria do Rui Amaral com menos estado o Relvas desaparece.

Vai sair de vendedor do estado para vendedor da remax.

zazie disse...

Então como é, ó tolinho. Com o Pinto da Costa é cabala, porque é que não pode ser com todos estes senhores?

Vivendi disse...

O futebol dá-lhe de comer Zazie? O futebol é que pós o pais na miséria?

Mas santos só na igreja e no altar.

rui a. disse...

Zazie,

Obrigado por se preocupar com o estado, certamente lastimável, da minha moleirinha. Vc. é mesmo uma Santa. Não há dúvida de que acertei.
Quanto à corrupção. Como sabe, trata-se de um crime pelo qual um agente com poder público utiliza esse poder para agir em favor de quem o favorece ilicitamente e não guiado pelo interesse público objectivo. É um crime que não existe, por definição, na vida privada. Donde, um raciocínio elementar nos dirá que quanto menos poder de decisão houver no estado, maior será a probabilidade de ser utilizado indevidamente, seja por intencionalidade dolosa, seja por pura incompetência. Por mim, considero igualmmente graves ambos os resultados, já que, como sou razoavelmente utilitarista, como contribuinte interessam-me mais os resultados do que fazem com o meu dinheiro, do que as motivações pelas quais o fazem. Mas há mais. Por exemplo, como vc. qualifica a atribuição de lugares públicos a filiados de partidos, por puras razões de influência aparelhista? Quais as motivações de uma decisão deste teor, onde estão em causa recursos públicos (impostos, entenda-se) de elevada monta, seja o que se paga aos contratados, seja o destino que estes dão às verbas públicas que estão sob a sua alçada? Se a contratação tiver sido influenciada pelo pedido de um chefe partidário, estando, assim, subjacente uma vantagem pessoal para quem aceita a influência, como chama vc. a este comportamento? E quantos destes lugares públicos, de altíssima importância da nossa administração pública e política, foram assim preenchidos? O meio de corrupção é apenas pecuniário, ou será também mensurável, por exemplo, pela retruição do comportamento pretendido com uma promoção na hierarquia do partido ou a promessa tácita (não tem de ser expressa) de um futuro lugar num conselho de administração de uma empresa favorecida numa decisão pública? O conceito de «corrupção» é, assim, muito ténue e dá pano para mangas, Zazie. Em Portugal, tem dado para chatear criteriosa e selectivamente alguns alvos políticos (também haveria muito a dizer sobre a moralidade e a licitude destes comportamentos, como o Pedro já acima referiu num post sobre o JNPC), e nada mais. Por mim, como sempre considerei que «a ocasião faz o ladrão», considero que uma administração pública transparente é a que tem pouco, mesmo muito pouco, poder de decisão. Utilizando, em alternativa, as palavras de Lord Acton: «Todo o poder corrompe».
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Prezado Vivendi,
Já reparou que Miguel Relvas é ministro e, por sinal, um dos mais importantes do governo? Acha que se as universidades (privadas e PÚBLICAS, note bem...) não tivessem as dependências que têm do poder político, vc. se teria de preocupar com este tipo de casos?
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Cumps. a ambos,
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RA

zazie disse...

Pois Rui, é tudo muito relativo e o poder corrompe.

O que nos vale é que ainda sobra um niquinho de gente fora do dito cujo ou nas imediações.

Portanto, para resumir, acho que não há caso e o que se está a pagar é por bem.

Já o seu problema com os conceitos é que parece andar demasiado platónico nessa defesa quixotesca.

Algo me diz que os "direitos humanos mais fundamentais, tal como os desejos, são outros e nada santinhos.

Mas, ao menos aí, só não mete o bedelho quem não pode e o conceito agradece

zazie disse...

E beijoquita, homem de Deus.

Volte sempre e comente como se estivesse em casa.

Vivendi disse...

Caro Rui Amaral,

Não basta mais estado ou menos estado para resolver a coisa. Apesar de ser defensor de um estado com menos de 30%. Salazar tinha um estado com um peso na economia de 15%.

Partidocracia. O problema está aqui.


http://vivendi-pt.blogspot.com/2012/02/partidocracia.html

Só com os melhores a coisa funciona. Seja no estado ou no privado.





zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rui a. disse...

Caro Vivendi,
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Há um erro no seu raciocínio: o regime salazarista teve partidos, correntes de opinião com lideranças próprias e pesados grupos de influência que conflituavam entre si, ao ponto de inclusivamente, terem tentado golpes de estado palacianos. Esses partidos não iam era a eleições.

Vivendi disse...

Caro Rui Amaral,

Estou ciente disso. E não sou contra o fim dos partidos. Sou a favor de lideranças com mais autoridade e onde seja possível escolher os melhores.

Avançar com o sistema de voto nominal iria mudar e muito com o panorama político.

Unknown disse...

Eu já tinha uma ideia de que você era um grande otário, mas desta forma não fazia ideia.

Pinto da Costa só não foi preso e condenado porque as escutas que foram autorizadas por um juiz, foram consideradas nulas. Escutas essas que provam inequivocamente que o homem é culpado.

E por favor não diga a ninguém que é Benfiquista. Envergonha todos os que são desse clube !